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ENSINO: CAMÕES CATAVENTO REFORMISTA?

Atualizado: 4 de abr. de 2019

O catavento reformista tem abusado da ancestral ingenuidade do povo para fazer aventuras em matérias sérias quase sagradas. O Ensino adquiriu a volubilidade de uma moda, que tem sido adaptada, anulada e subvertida nos posteriores a 74, a um ritmo totalmente incomportável para se acreditar na seriedade e competência dos seus iluminados mentores – homens sem estatuto para encararem o fenómeno educativo numa perspectiva de Estado.

Isto quer dizer que não é qualquer um que faz uma reforma do Ensino e, para que a reforma seja produtiva, não se pode andar a reformar segundo as modas adoptadas ad hoc por cada ‘artista’ da 5 de Outubro.

A falta de credibilidade, gerada pela leviandade de tantos anões pretensiosos que polulam na política, tem gerado a catastrófica decadência da preparação dos nossos jovens para o duro realismo das batalhas da concorrência europeia e global e, o que ainda é mais grave, uma trágica inércia, vivida na falta de credibilidade num sistema de valores nacionais.

Os resultados estão à vista: o Poder (e não só o deste governo) já não consegue convencer os portugueses de que é preciso reformar as coisas mais essenciais: a Saúde, a Fiscalidade, a Justiça, a Administração Pública…

Mesmo quando as reformas passam ao pa-pel e do papel para a acção, o português médio sabe que o próximo governo vai baralhar e reformar tudo outra vez.

Assim se chega ao ridículo de se formarem professores de Matemática chumbados a Matemática. Só o Técnico e, depois as outras faculdades estatais assumiram as vagas prescindindo das respectivas receitas, recusando esses alunos, com a honestidade intelectual que devia ser normal nas Escolas Superiores, que exploram o lucro à custa dos ignorantes que compram canudos cheios de ar e vazios de conteúdo para o mercado de trabalho.

O mais grave é que tantos diplomados com licenciaturas, mestrados e doutoramentos insistem em puxar por esses galões, quando não passam de parolos/as oportunistas, embora o sistema lhes dê benesses.

Os alunos sabem como tudo se processa. São mestres na chantagem latente familiar, típica das sociedades de consumo. Também não desconhecem que os políticos precisam do seu voto. E não ignoram que grande parte dos que detêm o poder chegaram lá pelos caminhos do compadrio, do oportunismo e do golpismo. Sem trabalho.

Perante o poder dos adolescentes num país que perdeu toda a disciplina e qualquer autoridade, o sistema vai deslizando cada vez mais para denominado ‘porreirismo’.

Como são negociados nas escolas os truques dos adolescentes, para que, ao mesmo tempo, não precisem de trabalhar e passem os exames?

Inventou-se uma fórmula: o sucesso escolar. Os papás querem o tal ‘sucesso’, espécie de banha milagrosa descoberta por um dirigente autodeclarado apaixonado, mas que nunca deu aulas, nem trabalhou, nem teve responsabilidades… só se especializou nas sendas ideais do rato da cidade na sacristia da politiquice. Pais e alunos, mesmo quando descem à rua dia-sim dia-não, parecem ser felizes, não se deixando ‘alunizar’ para terem boas notas, com o escreve o adolescente citado nesta página.

Esta felicidade colectiva leva a que sejamos considerados no estrangeiro os partout - +gais – sempre alegres e em toda a parte, mesmo desgraçados e marcados com o ferrete do mais baixo nível de vida. Porque as escolas portuguesas (mesmo se universidades) insistem nas motivações dos jardins infantis, em vez de trabalho exigente e adulto.

O sucesso escolar está directamente ligado à avaliação continua, interna – que no 12º ano representa 70 % do computo de acesso e, portanto, previne logo a eventualidade de chumbo. Com efeito, um candidato a Matemática com média de 15 (=70 %) na escola não deixa de entrar (e com 10,5=11 valores!!) para as denominadas universidades particulares, mesmo se tiver 0 (30%) no exame nacional!!


Estamos a falar de matemática – uma disciplina de rigor, por essência, que não permite a elasticidade das outras disciplinas. Essa elasticidade é que vem camuflar o problema em todo o sistema de ensino, pois, na generalidade das disciplinas, os programas são simplificados de eleição em eleição, para não perturbar o porco de As Farpas. A esta simplificação decadente regular chama-se ‘reforma curricular’. Assim pomposamente.

O professor do sistema será aquele que aproveitar esta maré de boas notas: “é um aluno porreiro, não perturba as aulas… subo-lhe de 7 para 12”. Ou, “Livra! Nem que mereça um zero não o quero repetente” (Ah! “retido”, repetente é palavra arcaica, como “liceu”).

A simplificação dos currículos bateu no fundo quando o descaramento chegou a Camões. Este problema tem sido comentado de várias formas, geralmente por pessoas apressadas, que não vêem a sua tripla vertente:

1 - Para já, Camões não é fácil, dado que celebra factos da maior solenidade. E o reformador, esse gajo porreiro, opina, então: tiraram-lhe as partes difíceis do Camões e dão-se só os textos mais interessantes para os ‘chavalos’. Isto feito durante estes anos, Camões ficou reduzido a uma tanga, dando cobertura aos analfabetos da geração rasca.

2 - O problema é bem mais grave: Noutros tempos, Os Lusíadas eram estudados no 5º (9º) ano. Exigiam maturidade, competência e trabalho, que hoje não existem da parte dos professores e dos alunos. A educação não tem capacidade para educar os educandos, pois isso exige autoridade de um lado e esforço do outro. Hoje, os alunos nem são capazes de ler escorreitamente textos da norma, quanto mais um poema épico. Os nossos alunos, hoje, sofrem de analfabetismo escolar; não sabem ler, escrever e contar. No 12º ano aparecem cada vez mais os que não compreendem o que lêem nem conseguem alinhavar duas ou três frases. Sem falar dos erros de ortografia! Mas exigem entrar na universidade! E podem, é crua verdade, comprar um curso universitário!

3 - Outra vertente do problema, retomando Camões, é que o seu imortal Poema épico é a gloriosa da Expansão da Civilização Europeia e do Colonialismo Português. Como está a ficar na moda falar de indemnizações aos povos colonizados, é completamente desmiolada ou oportunista a reacção socialista (por ex. do Alegre) ao atentado de lesa Pátria, os “heróis do mar”, que estará implícita no adiamento de Os Lusíadas para mais tarde. Romântico e saudosista como um António Sardinha, Alegre tenta quixotescamente comer a carne às rosas sem picar as barbas nos espinhos.


Agosto/2001


Texto: Altino Moreira Cardoso (Professor; Escritor e Jornalista).

Imagem: Google©



Imagem recolocada em 04/04/2019


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