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SEXO EXPOSTO OU EXPOSIÇÃO SEXUAL?

Atualizado: 6 de mar. de 2019

Já decorreram uns dias valentes sobre a controvérsia tripeira do Museu de Serralves e uns gajos a soldo do governo a censurarem quais aprendizes de PIDEs uma exposição de fotografias com sexo. Porra! Uma vez, há uns anos, antes da moda do ‘upskirt’ e de andarem de saia curta sem cuecas, fui visitar aquele espaço e havia miúdas sentadas ou deitadas, sós ou em companhia, na relva a descontraírem e onde se via mais sexo do que nas paredes.

Aliás, esta mania dos cortes na cultura quando as frustradas ou os frustrados que mandam se abespinham com a ousadia, mas depois babam-se num recanto com os telemóveis a trocarem piadas e fotos obscenas, já vem da última década.

Tive o grato prazer de viver enquanto director criativo de com funções da orgânica do CEDECA – Centro Desportivo e Cultural da Amadora –, em 2000, essa experiência inolvidável de ser censurado por saloios, papalvos ou provincianos como os quiserem classificar. Na época um qualquer vogal de uma junta de freguesia da Amadora (julgo que Mina), achou que fotografias eróticas trabalhadas digitalmente eram ordinárias, porcas e indecentes. Para nós artistas da imagem e da letra achámos mais obscenos os comportamentos e as políticas seguidas por aqueles cromos, do que as imagens.

O sexo está exposto em todo o lado, mas fazer uma exposição com sexo é ofensiva. Mas, depois gajos a lambuzarem-se todos no Metro, ou duas gajas a amassarem as bundas gordalhaças não é um comportamento indecente. Aliás, esta bandalheira co-existe numa democracia esquerdista, bloquista em que o povo mandado tem de aceitar as diferenças, lutar contra os estereótipos, apoiar minorias, por muito aberrantes que sejam, mesmo que se prejudiquem as maiorias, e incentivar outras subversões sociais, desde que pareça um país evoluído, desenvolvido, economicamente sólido e com grande futuro pela frente.

Portugal é uma amostra do que é um país democrático, livre e culto. Robert Mapplethorp fincou a sua irreverência, nos anos 70 e 80, numa altura em que a dita ditadura, via Marcelo Caetano estava a caminhar para a extinção.

Tal qual muitas outras criações artísticas do final da década de 60, princípios dos anos 70 que entraram com atraso considerável no burgo, (‘J’ai T’aime, Moi Non Plus’-1967; ‘Garganta Funda’ ou ‘O Último Tango em Paris’, ambos de 1972 ou ‘Laranja Mecânica’-1971) foram marcos da liberdade sexual numa Europa a derrubar muros. Mapplethorp estava neste enlevo. Portanto, se, no século passado, (apesar de discordar da homossexualidade e derivados aberrantes) estas cabeças mandantes se deliciaram com merdas destas, porquê tentarem agora, impôr restrições doentias à estética e à, digamos, arte? Não faz sentido! Nenhum!?

É que sinceramente, basta ligar a televisão, ir a um parque público, ligar o telemóvel que o sexo viola-nos, qual Ronaldo. Por outro lado, a opinião pública deve ser soberana. Caso não fosse, não teria esgotado edições sucessivas das obras de infantilidades tidas como excelentes, como ‘As Cinquenta Sombras de Grey’. Faço parte da última geração, e diria quase a única que teve o que as antigas não tiveram e as futuras nunca terão: Liberdade (não aquela pseudo-adquirida com a Abrilada marada); Educação cívica, ética social, respeito e educação.


Não precisámos de alertar as pessoas para as diferenças, que no presente, são sectárias e segregacionistas. Cigano era, é, e será sempre cigano. O mesmo se aplica às raças, credos etnias, às facções, aos grupos, a todas as diferenças. Aliás, não era preciso um juiz dizer que cigana não tem de ir à escola. No antigamente, antes desta censura democrata, cigano não ia a lado nenhum! Também eles, ´per si´, não queriam misturas. Agora a única igualdade que querem é o RSI, que a somar às vendas mais ou menos clandestinas dá um rendimento mensal fabuloso, limpo de impostos. O Estado corrompe as vontades com este tipo de subsidiação. De igual modo, não nos eram impostas vontades, decididas por uma parte suposta eleita democraticamente, nem nos eram controlados procedimentos que violam de forma repugnante o nosso direito à indignidade, à diferença, e à auto-determinação pessoal.

Víamos mulherada jeitosa e mandávamos bocas; olhávamos de lado para a maricada sem que esta nos fosse imposta; tínhamos vídeo-clubes e revistas com pornografia ao dispor mas com as naturais restrições impostas pela idade - o que é impensável no presente -; falávamos abertamente (entre amigos) de sexo como sendo uma coisa apetecível. Tive a sorte de me adaptar à última grande revolução social mundial e transportar essa ideologia, filtrada para esta época de populismo.

Por isso, não entendo qual o problema de ver uns pirilaus e umas mamocas com anexos em fotografia. Só entenderei essa abordagem primária se, quem a produz, tiver nascido espontaneamente, não tiver definidores de género e alguma espécie de trauma infantil, não filtrado pelas apuradíssimas técnicas actuais do estudo da personalidade e do comportamento.

Finalmente, apenas um reparo. Esta polémica pode ter sido uma manobra publicitária, pois o fruto proibido é o mais apetecido. Em vez de ser vista como mais uma mostra de Serralves, transformou-se ‘na tal’ exposição com nudez para o povo encher o olho com uma ‘overdose’ de partes pudendas. Caramba, todos nós temos coisas daquelas, mais ou menos dependuradas (acho eu)…




Texto: Fernando de Sucena (Investigador de informação; Jornalista; Escritor e Formador). 2018©/Produtores Reunidos© .

Imagem: Google©


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