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PRAXES

Atualizado: 7 de mar. de 2019

Vivemos com o miserável Ensino que temos porque quem ensina, no século XXI, foi mau aluno no século XX e é um ressabiado praxado. Óh, yeah!

Como havemos de ter alunos com vontade se são umas bestas que os praxam? A culpa é dos professores deles que já foram praxados antes destes. É triste mas é assim…

Até o conceito de Praxe é retorcido. A barbárie actual, nada tem a ver com o que julga ser uma praxe.

Vejamos o que nos diz a História (este intróito é para intelectualizar os doutores e engenheiros do passado recente e os do futuro próximo).

A praxe académica surgiu, naturalmente, na Universidade de Coimbra, única em Portugal durante vários séculos. Tem como base uma jurisdição especial (o "foro académico", distinto da "lei civil"), a qual era aplicada por um corpo policial próprio - os Archeiros - sob tutela das autoridades universitárias.

O seu papel era o de zelar pela ordem no campus e fazer cumprir as horas de estudo e recolher obrigatório por alunos e professores, sob pena de prisão, sobrepondo-se às autoridades policiais civis. Também tinha a incumbência de evitar a entrada na Universidade dos habitantes da cidade que não fossem estudantes ou professores.

Em 1727, devido à morte de um aluno, D. João V proíbe as investidas feitas pelos veteranos (qualquer aluno com mais de uma matrícula na Universidade).

No século XIX, o termo "investida" dá lugar aos termos "caçoada" e "troça", e a um geral aumento da violência durante essas práticas. Com o fim da polícia universitária, em 1834, os estudantes decidem criar uma adaptação desta força policial académica e recuperar os rituais de iniciação. Assim, após o toque vespertino da "cabra" - um dos sinos da torre da Universidade - patrulham as ruas da cidade, em busca de infractores, organizados em "trupe". Nos finais ds século XIX, surgem novamente relatos de violência entre estudantes, relacionados com os rituais de iniciação, onde os novos alunos eram obrigados a cantar e dançar, e em que era também frequente cortar-lhes o cabelo.

A praxe foi entretanto interrompida durante alguns períodos. Após a implantação da república (1910) a praxe é abolida devido à oposição dos estudantes republicanos, sendo reposta em 1919.

Durante o século XX a UNiversidade de Coimbra tornou-se um centro de luta contra o Salazarismo ea Guerra Colonial. As consequentes represálias geraram a Crise Académica, que culminou numa greve generalizada aos exames e a que fosse decretado o Luto Académico, em 1969, que levou à suspensão de todas as actividades académicas. Com o fim do regime a 25 de Abril de 1974 a praxe e todo o tipo de actividades académicas, como as festas académicas e até mesmo as tradições académicas foram em muitas academias proibidas. Na altura estudantes ligados à esquerda defendiam a tese de que a praxe alienava os estudantes da luta política, razão pela qual a recusavam.

O ressurgimento das praxes apenas ocorre no final do anos 70 quando as associações de estudantes controladas pelas juventudes partidárias de alguns partidos de esquerda radical começam a perder peso dentro das academias, principalmente da de Coimbra.

Isto originou que essa malta nova de ideias e ideais despenteados, achasse que a praxe é não uma recepção à maçaricada que sai das secundárias, após 12 anos de ensaios governativos e experimentos educativos à la carte, mas sim um abuso de libertinagem e humilhação revanchista dos mais antigos face aos mais novos. E o ciclo tende a perpectuar-se.

A praxe académica é uma recepção aos novos alunos, que se inserem pela primeira vez no mundo universitário. Consiste em rituais e jogos quer físicos quer psicológicos, baseados numa hierarquia.

Essa hierarquia começa por alguém mais velho, ou seja com mais matriculas, denominado DUX que define as regras e "controla" tudo o que é feito na praxe. Em seguida vêm alunos com menos matriculas e por aí abaixo.


E é na sequência desta inépcia de liderança ponderada que o descalabro acontece. É esse movimento directivo de praxadas que humilha, esgaça o ego e arrasa o infeliz vivaço que escapou a um abandono escolar.

Sempre fui contra as praxes. Qualquer uma. A única entrada escolar que traumatiza é a da primeira classe em que se corta, aí sim, a primeira fase da infância. Tudo o resto é abusador, pleno ilegalidades.

Que piada tem pôr pessoas a rastejar (quando muitos dos que exigem esse exercício fogem da tropa para não se esgadanharem)? Que piada tem pôr pessoas a despirem-se em público, quando o fazem de livre vontade nas praias, nos concertos e festivais de música. Que piada tem emborcarem álcool até ficarem com a figadeira a fazer corar de vergonha o foie gras?

Estes comportamentos demonstram inconsciência, estupidez, malvadez e frustração por parte de uns ou de outros. Para se tirar um diploma do ensino superior, nos tempos que correm, basta fazer quase nada, para quê o esforço dos primeiros dias, então? Vá lá mancebos das Universidades cresçam e tornem-se homens e mulheres de outra forma mais inteligente, normal, humana e fraterna.

Já o meu sogro, no século passado, dizia: estamos entregues à bicharada.

"Dura Praxis, Sed Praxis" - a praxe é dura, mas é praxe! é este o mote que a praxe académica

segue, este modo é baseado no latim "Dura Lex, Sed Lex".

PS: Não venham com a questão da tradição, porque em nome dela teremos, e bem, de assistir a touradas. Ah pois!...


Texto: Fernando de Sucena (Investigador de informação; Jornalista; Escritor e Formador). 2018©/Produtores Reunidos©

Imagem: Instagram©


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