Um livro que convida a uma viagem arrojada à montanha-russa dos insultos, com paragens na Finlândia, na China e nos Estados Unidos da América. Embarque e traga um amigo, pois este é um livro que não se deseja aos piores inimigos, mas deve oferecer-se com grande sentido de humor àqueles de quem mais gostamos.
Mas não julgue que o editor, cronista e autor Manuel S. Fonseca enlouqueceu. Este é um livro que leva ao colo os maiores palavrões portugueses. O autor juntou-lhes lengalengas brejeiras, expressões chulas e insultos de todo o mundo, mas não descura a sensibilidade, elegância e bom senso. É o humor o homem do leme neste livro que pretende mostrar o outro lado do insulto: o reforço de convivialidade, o seu efeito catártico e até mesmo terapêutico.
Chico-espertismo no trânsito, uma grande penalidade não assinalada, antipatias antigas, feridas por curar. Por toda a parte já se deparou com uma vontade incontrolável de lançar uma injúria capaz de levar ao tapete um campeão de pesos-pesados. Foi capaz? Controlou os instintos?
Se o fez, chegou a hora de exorcizar todos esses impulsos contrariados ao longo de anos através de um aliado frutífero, a maior arma de destruição massiva que a humanidade já conheceu: o livro.
Com O Pequeno Livro dos Grandes Insultos os seus desabafos ganharão sentindo. Com esta obra, a Guerra & Paz vem colmatar uma lacuna editorial na qual o palavrão surge como um destemido anti-herói de capa negra, munido de granadas capazes de derrubar os valores da paternidade e da maternidade, abalroar os pilares que suportam a virilidade, destruir os padrões da decência instituídos.
Agora já não precisa de insultar ninguém. Se lhe estão a dar cabo do juízo, é só mandá-los para a página 25 ou mesmo para 70, logo a seguir à 69.*
Estivemos no lançamento do mesmo na FNAC do Chiado e garantimos que vale a pena. O livro, claro! Quanto à sessão de lançamento, no passado dia 15 de Outubro, a propósito dum convite da Editora Guerra & Paz, desloquei-me ao final da tarde com a esposa à FNAC do Chiado, em Lisboa, para assistir, pensava eu, a mais uma sessão de lançamento de um livro, daquelas meias entediantes.
Pensava e arrependi-me. Acabou por ultrapassar as expectativas, tanto mais que em dia de aniversário, ninguém de bom senso se vai enfiar numa livraria para ouvir uns gajos falar de insultos quando, de manhã até à noite, no prédio, na rua, nos transportes, no trabalho, no restaurante, enfim em todo o lado se ouvem insultos.
Mas aconteceu. E foi bonita a festa pá!
O livro junta, de uma forma interessante todo o tipo de insultos que se podem dizer e escutar: ‘chupa-mos!’; ‘chifrudo!’; ‘afoga-me aqui o ganso’ etc.
A primeira parte do livro trata da explicação dos grandes insultos, o calão, o ordinário e as outras palavras baixas, como: ‘mama’; ‘lamber’; ‘porra’; ‘cu’ e mais duas dezenas de insultos.
Pénis e seus sinónimos. Vagina e sinónimos, chiça! Quase uma página. O curioso é que os autores não se lembram, ou desconheciam (o que é desculpável) que com este aglomerado, nos anos 80 um grupo brasileiro – Quinta Categoria, CD Pânico, editou um tema ‘E o Meu Tá Murcho’ (colamos a letra em anexo) que refere esses sinónimos de uma forma divertida.
Para quem quiser ouvir deixamos o link.
https://www.youtube.com/watch?v=nUlt8j_y7OM
A segunda parte aborda o palavrão idiomático, que segundo o autor utiliza palavrões como oxímoro e metonímia para explicar como se formam os insultos.
A propósito, na intervenção de Henrique Monteiro, este realçou que palavras caras, são consideradas muitas vezes um elogio, quando na realidade estamos a insultar quem as escuta.
A terceira parte fala das legalengas e outras amenidades populares, sendo que, uma das mais conhecidas é a do Camões. O Camões era zarolho, mas ilustre português: via mais só com um olho do que nós com todos com três.
Fernando Jorge Antunes, contou uma história de um camba azarento, utilizando a terminologia luandense, retirada de outro livro de Manuel S. Fonseca, Pequeno Dicionário Caluanda, arrancando gargalhadas da assistência.
O quarto capítulo, intitulado ‘Como dizer Aquilo Sem Dizer Aquilo’ faz o casamento entre a invenção lexical e uma certa hipocrisia moralista.
Finalmente, o livro fecha com os insultos de todos os tempos e lugares. Ofensas desde a Antiguidade passando por insultos na China, em Espanha, na Europa, etc.
A talhe de foice, um dos amigos do autor, abordou a comparação entre os palavrões e insultos lusitanos com os holandeses, ou flamengos ou neerlandeses.
Um fim de tarde chuvoso mas muito bem passado. O livro é interessante.
Manuel S. Fonseca, O Pequeno Livro dos Grandes Insultos, Guerra & Paz Editores, 2018 - 1ª edição.
Concluindo: Quando mandar alguém à merda pode não ser por você ser um ordinário, mas, apenas por ser a sua linguagem habitual, como nós por aqui, carago! ‘Daase!
E O Meu Tá Murcho
Caranguejeira, concha, xereca, bacurinha, buquê, buraco, bussanha, brecha, borburinha, escova, aranha, arca, caverna, canoinha, perereca, perseguida, coisa, passarinha...
Refrão:
Murcho
E o meu tá murcho.
Desejada, engole cobra, capô de fusca, laurinha, pencha, paranho, papuda, paxuxa, caixinha, paquita, pixana, caneco, pixel, pombinha, talho, xandanga, racho, xirana, xirinha.
(Refrão)
Apito, aro, assento, bibil, bocal, bonzó, broca, bote, bufante, buraco cego, cocó, broca, disco, fagulheiro, federal, fifiofó, formigueiro, fundo, frota, furico, loló...
(Refrão)
Nota: O CD Pânico foi uma colectânea do programa de TV brasileiro com o mesmo nome.
Em Portugal foi editado pela VIDISCO.
Texto: Fernando de Sucena (Investigador de informação; Jornalista; Escritor e Formador). 2018©/Produtores Reunidos© (Adaptado por XOK do original press relase). Republicado com alterações da edição do magazine XOK nº 56.
Imagem: Guerra&Paz; Arquivo/ProdutoresReunidos e Alexandra Teixeira
Imagens refundidas em 04/04/2019
000109
Estive lá e foi realmente uma sessão muito divertida e bem passada, graças ao pessoal da SIC...Gostei. Achava que as conferências de imprensa eram sempre chatas.