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ANOS 80 – OS MECANISMOS MAIS GIROS DOS POPÓS

Atualizado: 7 de mar. de 2019

Os Anos 80, significam um avanço tecnológico e industrial, mesmo na área da locomoção motorizada. Com efeito, os carritos de então, grande parte deles evoluções da década anterior, tinham maravilhas de engenharia que, ainda hoje, nos fazem inveja e nos deixam perplexos com a resistência dos ‘chassos’.

Era perfeitamente possível ir de Lisboa a Bruxelas, sem uma única avaria, porque aquelas brutais máquinas eram construídas para acelerar. Não havia cintos de segurança. Iam seis, sete ou oito pessoas dentro de uma viatura. A polícia era condescendente mas, mais rigorosa no trato e o nosso respeito pelos homens de farda era, ainda, muito grande.

De alguns dos modelos que me lembro e que guardo na memória, embora fosse um pouco mais que um ‘teenager’ retenho detalhes deliciosos. As ilustrações são mais fiéis, pois!

Exceptuando a Citröen, pela curvatura da aerodinâmica, em geral, todos os modelos eram muitos quadrados, e com uns pneus bué fininhos, assentes nuns chassis em aço pesadões e com tampões foleiros.

Os Renault (nos anos 80 circulavam muitos carros dos 70s) tinham vidros da frente, e nalguns modelos, os de trás a abrir que nem montras de doçaria. Na Citröen, quando se tinha de deitar fora a beata do cigarrito (sim toda a gente que conduzia fumava que nem chaminés, enchendo o carro com mais fumo tóxico, que o gás da Síria), tinham de levantar a metade de baixo do vidro da janela e, qual culturista, aplicar um porrete nessa metade para a entalar nuns fixadores colocados na metade superior. O Citröen e o Renault tinham uma caixa de velocidades muito marada, enfiada no tablier e aquela coisa das mudanças era estúpida de fazer. Parecia uma maçaneta de porta.

Os interiores eram secos, austeros e despidos de efeitos. Tinham volantes enormes. A direcção era pesada e tinha de se comer um bife de vitela para manobrar. Os bancos eram mais duros que os bancos de madeira dos jardins. Faziam uma barulheira do caraças e fumegavam que se fartavam. Chiavam por tudo quanto era possível.

Os porta-luvas eram umas caixas em aço com protecções de plástico e, os pára-sol consistiam em alguns almofadados retângulos de napa que estalava por estar muito tempo exposta ao sol. Havia uns carritos em plástico que se tornavam, ainda mais, engraçados ao substituir as peças que se estragavam por outras, de outra cor qualquer. Era o Citröen ‘Méhari’, e apesar de ser dos anos 70, ainda circulavam às dezenas até meados dos anos 80.

Carrito dum caneco. Gingão, baloiçante, leve, resistente, de condução muito irrequieta e que fazia as delícias do jovens recém-encartados, de então, com o carrito sem capota cheio de miúdas. Quanto mais os carros vibravam a andar mais, espectacular era ver as garinas com as maminhas a abanar…



Quanto aos motores eram do mais simples que se possa imaginar e, ao invés do século XXI, qualquer artista mudava cabos de embraiagem, substituía fusíveis e faziam reparações com uns paus, uns arames e muita, mas mesmo muita, fita cola. Pois é, artesanato automobilístico em puro estado.

De todas estas maravilhas que passei na minha juventude e um pouco mais adiante (na passagem de chavalóide, para machão – dos 18 para os 27 –) nunca consegui encontrar nada mais divertido e engraçado de conduzir que estas máquinas quase pré-históricas.

Vem desta época, a ideia de alterar os primeiros carros e, que só muito para a frente, no virar do século, se designou por carros ‘kitados’ ou máquinas de ‘tunning’. Relva, madeira, macramê, renda, luzes de natal, caricas, posteres e sei lá que mais servia para personalizar o bólide. Só recorrendo a arquivos de revistas da especialidade, teremos uma ideia aproximada da loucura que reinava por este mundo fora, para tornar o nosso automóvel de série em exemplar único.


Texto: Mário Teixeira/Produtores Reunidos©

Imagens: Montagem de P.H.M. - Portuguiesich Haus Mafia com recolha na Wikipédia©


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