A solicitação dos Produtores Reunidos e através do N.E.E. - Núcleo de Estudos Elitistas, uma entidade neutra e dedicada à recolha e análise de informação, fomos, investigar, in loco, a situação da farsa que são os cursos EFA. Esta investigação partiu de uma dúzia de denúncias efectuadas por alunos revoltados com o tratamento desprezível e indiferente com que os conhecimentos lhes são mal transmitidos pelos professores, contrariando aquilo que a Constituição prevê, que é um ensino funcional, universal e valorizável.
Estão os sindicatos assanhados, com actualizações de carreiras, quando o que está em causa é o ordenado que lhes é pago ser razoável para a mediocridade que a maioria transmite. Esta situação é transversal a todos os níveis de ensino, mas incide mais nos que estão em fim de carreira e nos que estão a começar e em transição para o ensino técnico-profissional. Concluindo o raciocínio, a luta (expressão típica dos esquerdistas que dominam os sindicatos e que acham que se sobrepõem a outras formas de governo) é de uma mesquinhez e má-fé terrível. Ganham bem para os desempenhos que demonstram e tentar, egoisticamente, recuperar os cortes nos vencimentos e nas carreiras que existem em todas as categorias, é anti-social. Os professores não são os únicos que acham que trabalham. Não são, sequer, os únicos que acham que sabem, e a sociedade continuará a desenvolver-se com ou sem eles, até porque a vertente formativa está largamente mais desenvolvida que a educativa.
Vem este intróito a propósito, da má transmissão de conhecimentos que se pratica amiúde e de uma forma generalizada nos chamados cursos EFA e CRVC. O investigador/jornalista, descobriu verdadeiras pérolas de irresponsabilidade e burla ao erário público (pois os custos inerentes às horas de formação são debitados aos Ministérios envolvidos no projecto, o da Educação e o do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Se, quando foi lançado, no século passado, o conceito foi uma mais-valia, actualmente, os cursos EFA (Educação e Formação de Adultos) são um resquício do que era o ensino nocturno. Estão ao nível dos extintos RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) em que os frequentadores se julgam valorizados, os estabelecimentos de ensino incutem falsas esperanças de equivalências escolares e as empresas e o mercado de trabalho ignoram os certificados, porque na realidade não têm nada a ver com ensino escolar.
Sendo assim, é uma burla validada pelas entidades competentes, porque nem sequer fazem um esforço para auditarem custos, aproveitamentos e funcionamento.
Foi-nos dito que existe falta de pessoal e que este ano devido ao conflito com os professores passaram a existir, para já outras prioridades. Perguntamos: Que prioridades? Continuar a enganar os pobres inscritos que tentam recuperar alguma esperança do abandono escolar dos anos 70 e 80?
Contactamos a entidade responsável por este sector, na Av. 24 de Julho, em Lisboa, mas até à data do fecho (Junho de 2018) não obtivemos resposta. Situação similar quanto ao contacto estabelecido com a secretaria de Estado respectiva.
E aqui surge a questão principal. A quem interessa esta formação vazia e, no caso em apreço, existem mais estabelecimentos de ensino com o mesmo problema (Sacavém, Amadora e Sintra) com uma equipa pedagógica inapta, desactualizada, corporativa, de esquerda e discriminatória?
A direcção da escola pactua, com esta situação, porque não é normal, durante semanas, existirem mais formadores e pessoal auxiliar que alunos. É um esbanjar de recursos sem retorno pagos por todos nós. Trata-se de água, luz, horas extraordinárias aos professores e auxiliares e, vigilantes. Também esta (ESPAN) não respondeu às solicitações em tempo útil, porquanto nos foi dito que pertencem a um agrupamento, e só o responsável pelo dito pode esclarecer questões deste âmbito.
Por outro lado, aquilo que supostamente seria do interesse dos alunos (ou será formandos?) é reduzido à autoridade do professor, o que leva a manipulações de classificações, de presenças e conteúdos. Ao não haver afixação ou consulta geral de avaliações terminais, não é possível aos próprios alunos terem uma ideia do seu real valor comparativo, pois o mediador do curso é o único garante da seriedade e honestidade provável do desempenho. De todo o desempenho que envolve uma acção destas, mas não reporta ao director da escola.
Vejamos mais em detalhe o que se passa nos EFA.
Um frequentador, Germano (nome fictício) refere-se ao EFA como “uma perda de tempo para todas as partes envolvidas. Os professores não têm noção das necessidades dos alunos. Cada um diz o que lhe apetece, e não sabem do que falam.”. Da mesma opinião é Maria (nome fictício) “Não esclarecem dúvidas, repetem-se uns aos outros. Querem trabalhos de grupo mas nunca existem alunos suficientes para os fazerem. Felizmente, só estive 4 meses para concluir as compensações que me faltavam para validar a minha inscrição na Faculdade. Assim, não tenho de fazer exames das disciplinas do secundário em falta”.
Mais uma opinião. Desta vez de um aluno com entrada a meio do curso e com facilitismo da frequência. Raul (nome fictício), “Preciso de acabar o secundário para entregar um diploma de 12º no trabalho. Como me disseram que basta fazer os trabalhos que pedem em casa e entregar, no fim do período tenho os blocos validados. De outra forma não poderia fazer o curso por causa dos horários rotativos. Acho uma boa ideia, este tipo de ensino. As disciplinas não têm nada a ver com a escola.”.
Manipulação de conteúdos. Burla estatal devido a uso fictício das verbas atribuídas para cursos (valor hora, valor aluno, aproveitamento global e parcial e todas as envolventes que pressupõem uma determinada verba para determinados fins). Conteúdos desactualizados, e distorcidos da realidade. Professores estafados, deprimidos e em pânico de poderem voltar ao contacto com os alunos diurnos porque estão em fim de carreira do ensino.
Professores que dormem na aula, faltam e sumarizam, perguntas e respostas disponíveis na internet. Sessões de filmes quase contínuas e com grande parte dos filmes desadequados e fora dos objectivos referidos ou sugeridos pelo Referencial.
Se, quem ler este apontamento, pensar que estamos a exagerar basta aceder às redes sociais (WhatsApp ou Instagram) que são as preferidas dos alunos para se constatar toda a veracidade do que afirmámos, com fotografias e comentários que vão do mais hilariante ao mais sério que se pode imaginar. Até pelo facto de estarem disponibilizadas fotografias e conversas das salas, prova que a desatenção e a objectividade dos responsáveis são quase nulas. Estão ali, porque lhes pagam mais qualquer coisa, em vez de estarem em casa com a família ou num café a conviverem uns com os outros e a falarem das conquistas de Abril.
As questões postas nas redes sociais, pelos alunos (?) vão desde a pergunta de qual o professor que vai estar lá naquele dia, até ao perguntar o que mandou fazer em casa e a resposta com o respectivo fac-simile do TPC a efectuar. Espantoso.
Um dos dois elementos que investigou esta realidade, infiltrado como aluno reuniu elementos do que não se faz numa sala de escola ou de formação. Em consequência desses desempenhos os frequentadores deixam de comparecer e de responder aos desafios porque não lhes adianta nada.
Um dos exemplos mais engraçados é que os testes efectuados num dos módulos estão disponibilizados no site da Escola (desde 2015, no mínimo) e depois de entregues nem sequer contêm classificações ou cor-recções ortográficas. Nada. É a lei do menor esforço que impera. Uma originalidade que ocorre na ESPAN (e julgamos que em exclusividade) os blocos de 50 horas do referencial, por tema, passam a 100 e são dados por dois formadores em simultâneo, o que origina uma sobreposição dos conteúdos, uma divisão das responsabilidades e enorme confusão para quem tem de aturar o massacre de incompetência. Claro que, ninguém se entende e nem os próprios sabem o que andam ali a fazer. Há excepções, obviamente, mas mesmo essas não têm grande qualidade, nem acrescentam mais-valias.
Existe um módulo com o pomposo nome de PRA (Portfólio Reflexivo de Aprendiza-gem) que supostamente seria para o acom-panhamento do desentrolar da acção e cor-recções dos erros surgidos e avaliação das disfuncionalidades detectadas pelos fre-quentadores. Todavia, no caso concreto, nem sequer é permitido criticar o modelo, porque isso vai contra todos os aspectos positivos não existentes, mas apregoados.
É quase uma ditadura dos mediadores.
Contactámos alguns alunos ou ex-alunos, pois esta formação EFA permite que haja uns (já nas faculdades) a fazerem uma parte da ‘equivalência’ apenas para concluírem o 12º ano; outros efectuam o percurso para concluírem o 11º e, ainda outros, que estão no percurso de 10º, 11º e 12º ano. Tudo misturado.
Há medida que vão concluindo os percursos vão abandonando as turmas e deste modo o quórum reduz-se a quase zero. No espaço de oito meses uma turma de mais de 22 alunos está reduzida a 6, já com incorporações extraordinárias.
Obviamente que, aqui não colocámos nomes verdadeiros para manter o sigilo de professores, alunos e demais participantes destas acções EFA. No entanto, temos, claro, dossiês com provas documentais, cópias de páginas de internet, fotografias e vídeos cedidos por alguns dos participantes que se sentem altamente prejudicados, porque depois de um dia de trabalho e com grande esforço, acabam por ser abandonados numa sala ao sabor dos humores dos professores, sem que aprendam algo de realmente útil em termos profissionais ou escolares.
Repetimos que estas constatações foram vivenciadas pelos repórteres ‘infiltrados’ (com inscrição efectiva nas escolas), durante algumas semanas. É lamentável que o ensino tenha chegado a níveis tão baixos de objectividade e clarividência. Quem, como nós, concluiu estudos no antigo e saudoso ensino nocturno, não deixamos de nos sentir agastados e tristes com o estado a que isto chegou.
Cristina (nome fictício) refere a propósito “Sempre pensei que isto funcionava como o ensino nocturno clássico. Tenho pena de ter de passar por isto, pois preciso do certificado que nem sequer dá equivalência ao 12º porque não temos exames nacionais. Enfim, é um esforço pessoal para o orgulho próprio. Apenas isso. Quem se esforça merecia mais consideração.”. Da mesma opinião é Carlos (nome fictício): “ Os temas, no papel pareciam interessantes, mas na prática são uma chachada. Na apresentação, disseram que não se escrevia muito e tínhamos algumas fichas de avaliação para preencher, porque isto não era como na escola. Mentira. Fichas de seca todos os dias, sem nada a ver com o que falamos nas aulas, exigem coisas e trabalhos para ocupar tempo sem nexo e passam mais filmes que o canal Hollywood, a maioria sem nada de jeito. Isto é um embuste.”.
Também, quanto às condições em que as pseudo aulas decorrem, muitas falhas foram detectadas. Temperaturas desadequadas, ou muito frio ou muito calor, falhas nos equipamentos informáticos, acessos, por vezes péssimos, como se pode constatar nas imagens.
Isto é de bradar aos céus, pois a escola foi intervencionada e sofreu remodelações (à semelhança de dezenas de outras pelo país) recentemente, mas o estado de degradação é já patente nos exteriores.
Entrámos em contacto com o Ministério da Educação, sendo o assunto remetido para um gabinete da Parque Escolar, uma E.P.E., que se limitou a informar que a conservação das escolas cabe aos próprios estabelecimentos de ensino e dos respectivos agrupamentos.
Nada resta a um país que deixa de apostar no ensino, na educação e na formação com clarividência e substrato. Por isso continuarmos a ter os maus recursos humanos na função pública, os contratos de trabalho de duração supersónica no sector privado, políticos, sindicalistas e mandantes a brincarem com tudo isto e os poucos que deram ao país algum esforço, a continuarem a ser espoliados de direitos que lhes assistem.
Perante tudo isto, obviamente que o melhor caminho é a extinção pura e simples desta falsa formação educacional e vocacional. Todos ganham. O Estado poupa, os professores descansam mais porque ficam pelos horários curtos que têm, os alunos ficam a saber que continuam na mesma sem se sentirem enganados com falsas promessas e, os patrões podem contar com trabalhadores qualificados, e com ‘estudos’ de acordo com a idade. É que uma pessoa com 50 anos, por lei, não tem que ter o 12º ano nem pode, por isso, ser descriminada nos concursos, ou nos empregos. Por isso, esta treta dos EFA e dos RVCC não tem cabimento moral nem social. Nem sequer são necessários estes percursos criativos para a melhoria das habilitações. Basta fazer exames de acordo com a idade e as habilitações, para se promoverem mais-valias educativas.
Recordemos o que diz a lei. Os indivíduos nascidos antes de 1 de Janeiro de 1967 apenas terão de ter no mínimo a 4ª classe/1º ciclo, com assiduidade mas sem aproveitamento.
Para os indivíduos nascidos a partir de 1 de Janeiro de 1967, basta a conclusão do 6º ano/2º ciclo com assiduidade mas sem a-proveitamento.
Quem frequentou o 1º ano de escolaridade (1ª classe) no ano lectivo de 1987/1988 e subsequentes terá de ter o 9º ano/3º ciclo do ensino básico, com assiduidade e sem aproveitamento ou 15 anos de idade. Para os alunos que, no ano lectivo 2009/2010 se matricularem no 8º ano e seguintes continua a ter de frequentar até aos 15 anos.
Os que no ano lectivo de 2009/2010 se matricularam em qualquer um dos anos de escolaridade compreendidos entre o 1.º e o 7.º ano, inclusive, ficam sujeitos ao limite da escolaridade obrigatória de 18 anos de idade e 12 anos de escolaridade.
Perante a lei, e estes regulamentos retirados da mais recente Lei de Bases do Ensino, qualquer pessoa que queira progredir na carreira, por motivos de escolaridade, deverá ter opções válidas e coerentes com a sua experiência profissional e académica mediante exames direccionados.
Não parece muito credível (não pela situação em si, mas pelo extremo da mesma) colocar um trolha de 35 anos e 15 de trabalho, com o 9º ano, numa sala de aulas durante 18 meses, a ver filmes da treta e a ser ensaboado com as milongas de Abril, para lhe darem uma coisa que não adianta nada, porque, não é 12º ano, nem nunca vai ser. Quando chegar ao fim do sofrimento e massacre mental desnecessário, continuará como trolha, a saber o mesmo que sabia e com perspectivas de futuro idênticas. Logo, o tempo gasto em objectivos não exequíveis, é penalizador para o exemplo dado. Não é por frequentar estes cursos, cheio de boa vontade, que vai aprender mais. Por isso, o título do início da peça. Tudo isto não passa de uma farsa.
(reportagem originalmente publicada no XOK Magazine nº 54, de 01 de Agosto de 2018. Pode ser consultada, bem como toda a colecção em https://issuu.com/lusorecursos/docs)
N.R.: Soubemos que, depois de publicada a reportagem, houve um inquérito, mas desconhecemos as consequências do mesmo. No entanto, após uma abordagem efectuada pela entidade responsável e com alguns ajustes, a situação voltou à mesma, ou ficou pior conforme informações prestadas por outros alunos que nos contactaram.
Texto: Fernando Skinrey (Jornalista, Criativo Gráfico, Empresário e Massagista/Podólogo). Produtores Reunidos©/N.E.E. - Núcleo de Estudos Elitistas©
Imagens: Google©; Parque Escolar© e Arquivo/ Produtores Reunidos©
Imagens refundidas ou republicadas em 04/04/2019.
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Pena que a escola tenha decaído tanto. Gostei muito de andar nela. Boas recordações dos colegas e professores.
É lamentável que uma escola com algumas referências e posições relativamente medianas nos rankings tenha caído tão abrupramente pelo oportunismo do lucro e do compadrio docente nos cursos EFAs. A má preparação destes professores em final de carreira é confrangedora e existem alunos mais bem apetrechados para o ensino nestes módulos do que os que ganham bem de mais para tal. Vivênciei isto pessoalmente é uma dor de alma os alunos terem de passar por isto...
Ainda bem que as pessoas, os leitores e os alunos gostaram desta reportagem. Quando se juntam interesses diferentes para alcançar um objectivo comum, as coisas correm bem e os resultados são surpreendentes. Gostámos de colaborar com os nossos amigos e colegas de comunicação. Temos outras investigações em curso e que a seu tempo serão referidas por estes espaços. A demora deve-se ao tempo que os infiltrados têm de permanecer nas instituições e postos de trabalho para detectarem e interpretarem correctamente as falhas. A investigação é isso.
É para isto que os blogues servem. Para denunciar o que está mal. Excelente abordagem, mas podiam ter desenvolvido e detalhar os casos mais concretamente.
E se fosse só isto!...