Ter um gato não é o mesmo que ter um cão ou um bebé humano. Quando alguém adopta um animal, busca os primeiros conselhos com familiares, amigos, vizinhos e na internet. O mesmo acontece quando o gato fica doente. Neste caso, depois de terem tentado todas as mezinhas aconselhadas pelo vizinho, depois de experimentar os comprimidos que sobraram do tratamento do animal de um familiar, depois de se aconselharem com a senhora da farmácia e depois de consultarem o Dr. Google (não necessariamente por esta ordem), visitam finalmente o veterinário. Muitas vezes já com o animal em estado crítico, quando se torna muito mais complicado o tratamento.
O que não se deve fazer a um felino caseiro.
CORTAR BIGODES
As vibrissas ou bigodes são fundamentais para o equilíbrio e orientação do gato. Funcionam como uma espécie de radar, dando a noção exata de dimensão e distância dos objectos, facilitando a movimentação do animal na escuridão total. A perda deste órgão sensível provocará insegurança e frustração, uma vez que o gato terá dificuldade em executar determinadas tarefas rotineiras, como saltar com precisão, orientar-se no escuro ou andar em linha reta.
DAR PARACETAMOL
Um comprimido de paracetamol atinge drasticamente os glóbulos vermelhos e o fígado, levando à morte em poucos dias. Isto porque os gatos não o conseguem metabolizar, por falta de proteínas que o degradem. Mesmo com tratamento adequado e intensivo, a intoxicação por paracetamol mata, de forma lenta e dolorosa.
DAR ÁCIDO ACETILSALICÍLICO
Muito utilizado como antipirético e analgésico, demora cerca de 45 horas a ser eliminado pelo metabolismo felino, enquanto que, no ser humano, o mesmo acontece em cerca de 4 horas. Os sinais de intoxicação são: apatia, aumento da frequência respiratória, febre, anorexia, vómitos, gastrite hemorrágica, lesões renais, hemorragias, coma e até morte.
MEDICAÇÃO SEM CONSELHO VETERINÁRIO
Automedicação é perigosa e exige conhecimento profissional. O gato possui um metabolismo peculiar, diferente do cão ou do homem
DESPARASITAR COM PIRETRINAS
As piretrinas são inseticidas usados no controlo de parasitas externos dos cães. São habitualmente vendidos sob a forma de pipetas de aplicação tópica, coleiras, pós ou champôs e visam a eliminação de pulgas e carraças. Os gatos são bastante mais sensíveis a estes produtos, incapazes de os metabolizar e a sua ingestão, inalação ou contacto com a pele pode ser desastrosa. A intoxicação causa sintomas neurológicos e musculares agudos tais como salivação excessiva, tremores, convulsões, dificuldade respiratória, diarreia e vómitos, depressão ou hiperexcitabilidade, febre ou hipotermia e, como derradeiro e último sinto-ma, a morte desnecessária e agónica.
UTILIZAR GUIZOS NAS COLEIRAS
Sem dúvida, quando compra uma coleira para o seu pequeno tigre, esta virá, muito provavelmente, ornamentada com um guizo. A maioria das pessoas acaba por o deixar ficar, por achar engraçado ou mesmo por conveniência, uma vez que se torna mais fácil localizar o seu portador. Como caçadores, vêm a tarefa dificultada pelo seu soar indiscreto. Como presas, são mais facilmente localizados pelos seus predadores. Toda a anatomia do gato o dota da possibilidade de se tornar quase invisível e silencioso.
PASSEAR O GATO À TRELA
Os gatos, não gostam de ficar expostos, sem controlo do ambiente, uma vez que temem potenciais inimigos. Adoram explorar, mas sem perderem o domínio da situação, ao seu próprio ritmo e conforme a sua vontade
DAR CHOCOLATE
Muito falado em cães, mas também tóxico para gatos. O chocolate contém teobromina, que não é metabolizada no fígado, causando diarreia, vómitos, tremores, descoordenação motora e até morte. Qualquer produto que contenha chocolate, mesmo que em ínfimas quantidades, está completamente proibido na alimentação felina.
LEVAR O GATO AO VETERINÁRIO SEM TRANSPORTADORA
Podem-se evitar os acidentes que acontecem com gatos que vão á consulta, sem estarem devidamente acondicionados numa caixa transportadora. Os donos conhecem o seu animal no contexto doméstico, em ambiente controlado e com o qual está completamente familiarizado. Salvo raras excepções, em casa sentem-se confortáveis e seguros e a sua atitude é a expectável. Os gatos são animais que passam subitamente de uma emoção a outra. Um gato em pânico, tanto pode ficar estático, como no segundo seguinte atacar e/ou fugir.
DAR PÍLULA CONTRACEPTIVA
O controle da natalidade nas gatas deverá ser feita através da esterilização cirúrgica. A pílula anticoncecional está completamente contraindicada, pelos riscos que a sua administração acarreta.
Escolher um gato para partilhar o ambiente familiar implica um compromisso em que nos responsabilizamos pelo seu bem-estar físico e psicológico. É nosso dever proporcionar-lhe alimentação adequada, exercício físico regular, cuidados de saúde indispensáveis e possibilidade de expressar todos os seus comportamentos naturais.
Completamente indefeso, estará á mercê das nossas decisões, dos nossos caprichos, das nossas futilidades. Uma irresponsabilidade dos donos pode custar a vida do animal. Nunca arrisque e pondere bem qualquer decisão que envolva o seu gato.
Texto publicado originalmente no XOK MAGAZINE em 2018.
Texto: Célia Palma
Imagens: Google©
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