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OS VELHINHOS

Atualizado: 7 de mar. de 2019

Desta vez, nestas cogitações do passado, optei por, recordar palavras ditas num dos projectos radiofónicos, mais inovadores da época áurea dos anos 80.

Tudo aquilo que a Rádio Comercial e a M80, por exemplo, fazem no presente, já havia sido feito… à mais de 30 anos.

Agradecemos ao Mário Fernando e à MAFE a cedência dos textos que ficaram na memória dos que, então sintonizavam as várias frequências na região de Sintra e Amadora.

Eram um auditório vastíssimo.

Os velhinhos são seres humanos de sólida formação moral que em atingindo a idade mais avançada da sua vida nunca mais envelhecem estacionando no ano em que a morte, essa ceifeira de vidas, os leva para sempre.

Os velhinhos, dividem-se em velhinhos e velhinhas e agrupam-se em várias categorias:

Velhinhos simpáticos; velhinhos gaiteiros; velhinhos xéxés; velhinhos desempenados; velhinhos antifascistas de longa data e velhinhos sem classificação especial.

Os primeiros são aqueles que compreendem os problemas da juventude e dão 5 escudos a cada criança que encontram no meio da rua, mesmo que a criança não queira.

Os velhinhos gaiteiros fazem a corte a todas as pequenas, convencidos que são como o vinho do Porto, e podem ser encontrados nas primeiras filas das revistas do Parque Mayer.

Os xéxés distinguem-se por serem muito diuréticos, demonstrando-o em todos os sí-tios possíveis menos nos tradicionais. São, também, conhecidos por falarem muito baixinho, trémulos e por serem mais surdos que uma calculadora de algibeira.



Por sua vez, os desempenados são os que fizeram qualquer guerra anterior a 1920. Andam de bengala de cana, usam uma rosa encarnada na botoeira e passam o tempo a contar batalhinhas. São muito úteis para recepções, pedidos de casamento, conferências de imprensa do PDC e chás canasta de beneficência, especialmente se, se apresentarem fardados.

Os antifascistas, em geral, não têm dentes por lhes terem sido arrancados com uma tenaz pela odiosa polícia política, nem cabelo porque lhes caiu com a caspa.

Beneficiam quase sempre de uma pensão vitalícia, ou não podendo ser, de xarope contra a tosse ou supositórios de mentol completamente grátis.

Os velhinhos vivem de recordações, caldos de galinha e arroz branco sem sal. São facilmente reconhecíveis por estarem sempre a dizer “...no meu tempo…”. Alguns deles ainda guiam automóvel, vão sentados ao volante muito direitos, cotovelos encostados ao tronco nunca olhando para os lados e conduzindo a velocidade moderada e o mais possível pela direita, nas autoestradas. Até chegam a passar para o outro lado e é cada desastre rodoviário que, faz favor!...

Quando guiam, usam sempre um chapéu cinzento de aba revirada e covinha ao centro colocado exactamente no meio da cabeça, nunca fazem ultrapassagens e gastam uma buzina aos 15 000 quilómetros. Os velhinhos lêem o Diário de Notícias e o Primeiro de Janeiro. Dormem a sesta depois do almoço, usam camisola de lã durante as quatro estações do ano.

As velhinhas por sua vez, cheiram a naftalina que tresandam, são quase todas viúvas, especialmente as casadas, e usam muitas rendas e têm nomes incríveis como Miquelina, Adelaide e D. Maria das Mercês.

Eu não tenho qualquer espécie de má vontade contra os velhinhos até porque, se Deus me der vida e saúde, tenciono chegar à idade deles. Não posso é, vê-los no pino do Verão quando a gente anda a passear nos jardins, em mangas de camisa e calça clara cheios de calor em que não há nada que nos mate a sede, e estão eles muito sentados nos bancos de chapéus enterrados até às orelhas, todos enfiados em sobretudos e cachecóis à espera que a catedral volante de uma funerária da Almirante Reis os venha buscar.

Dá-me cá uma raiva…


OS 10 CONSELHOS PARA SER VELHINHO

1º - Chegar pelo menos aos 99 anos.

2º - Comer alhos durante a vida toda.

3º - Criticar tudo o que tiver menos de 70 anos.

4º - Falsificar o Bilhete de Identidade no que respeita à data de nascimento.

5º - Ter bisnetos ou de preferência para o currículum ter ‘trisnetos’.

6º - Gostar de ouvir música dos anos 20/30.

7º - Ter passado fome no tempo antes da outra senhora, durante e depois.

8º - Receber uma reforma muito pequenina e ter-se governado bem com 50 escudos por mês.

9º - Ser parente directo, pelo menos, do Vasco da Gama.

10º - Ter toneladas de rugas e mau cheiro .

Não seja velhinho. Tripe-nos à vontade.


Nesta equipa estavam presentes: Fernando Santos; Carlos Lacão; Ana Rosinha, Graça Bento, Mário Teixeira, Olindo Dias, Rui Madrugo; Fernando Skinrey, Carlos Vivo, MAFE, CEDECA, entre outros colaboradores e entidades que, em conjunto, produziam conteúdos brutais para a época em que as play-lists e o peso dos patrocínios ainda estavam de fraldas.Oportunamente iremos anexar alguns registos áudio com gravações desses programas.


Texto: (Adaptado e condensado do jornal Blitz, pela equipa do NEUZEN – R.O.L.A. - 1985) e Fernando de Sucena

Imagens: Google© e Arquivo/Produtores Reunidos©


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1 commentaire


Membre inconnu
19 nov. 2018

Tempos gloriosos esses. Gente com genica, vontade de fazer muito com pouco e, sobretudo, com muita criatividade. Será com muito prazer que disponibilizamos os suporte áudio existentes nos diversos arquivos das rádios (de então) e que a MAFE foi juntando numa mediateca. Disponham e acompanhem estas memórias colectivas inolvidáveis, algumas mesmo marcantes.

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