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ISPERTEJA XALOIA & FEIRAS XUNGAS

Atualizado: 7 de mar. de 2019

Os quartos


O alojamento local de agora, é o mesmo que nos anos 60 existia. O que mudou foi a quantidade, qualidade e descaramento. Descaramento chupista dos políticos e dos senhorios, estes por causa dos sub-alugueres. Descaramento inflaccionista por causa da ganância que derivou do ‘surfcoach’. Descaramento para despejos selvagens de gente sem escrúpulos, matando velhos com ansiedade, via abandono forçado das suas necrópoles de toda uma vida.

Nos fabulosos idos anos 60 e 70, era a grande moda, a família ir em excursão a todos os sítios possíveis e imaginários do país. A coisa era engraçada. Arregimentava-se uma data de malta do bairro. Contratava-se um motorista e autocarro, e por muito pouco, o pessoal basava da cidade para outras paragens. Cantava-se, comia-se, convivia-se e solidificava-se a vida gregária do bairro. Lindo! Desse tempo, ficam as amizades de infância e adolescência da zona de residência, muitas delas, passadas 40 anos ainda se encontram por aí sempre empolados de souvenires existenciais. Quando as deslocações eram mais demoradas, pernoitava-se em casa de umas velhadas por vezes conhecidos de alguns doa camioneta e pronto! Estava feito.


Lembro-me de ter em minha casa, pessoal que vinha de estranja por três ou quatro dias (pagavam muitas vezes em troca de igual período no país deles ou com sexo – como se faz agora em Londres). Éramos muito à frente, Caraças!. Quem tinha casa na ‘terra’ emprestavam-nas aos amigos e aos amigos que iam com esses amigos. Passei muitos meses (somando os dias) nesse tipo de turismo pé-descalço mas muito eficaz. Um mundo muito atraente, misto de relações humanas, pândegas e guia turístico, pelos botecos, bares de putaria e locais cheios de carteiristas, tal qual agora!

Conheci e convivi com estrangeirada até fartar. Ainda, entre 1999 e 2005, utilizei o mesmo sistema no Algarve e funcionou porque, em vez dos cromos que juntava na infância agora, trocava camas com outras turistas, mas coisa séria e honesta, pois sempre recusei a paneleirada. Esses são perigosos nas suas sonolentas demandas, porque quando menos se espera, já está!

Lembrei-me destes requintes do passado. Coisa de quem não tem nada em que pensar, num país em pensar faz mal.


Feiras


As feiras populares de rua, como as de Carcavelos, Rotunda do Relógio, Monte-Abraão, Luz ou Carenque, perderam a graça, por que deixaram de ser espontâneas. Até mesmo a feira da Ladra perdeu o encanto de outrora. Vendiam-se cassetes piratas, torrão de Alicante peganhento, fartura e churros oleosos, algodão doce com moscas. Eram bónus para a paciência dos clientes. Agora é tudo arrumado, desinfectado, alinhado, autorizado. A música desapareceu a doçaria é esterilizada, mas as grelhadas e o cheiro dos couratos e do frango mantem-se. Os ciganos aumentaram de número e a qualidade dos produtos contrafeitos, as ciganas estão mais giras e com mamaçal mais bonito. O burburinho mantem-se e os pregões são mais criativos e engraçados. Restam meia dúzia de vendedores de banha da cobra e tralha como a da feira da ladra. Dos tempos de então resta a saudade dos brinquedos de madeira, dos moinhos de plástico e das palmadas que levávamos das mães e pais pelas birras parvas.


Na transição do passado para o futuro, continua o lixo que se amontoa no fim da vozearia e a balbúrdia que fica na memória.

A mesma memória que retivemos dos anos 70 com o racionamento do leite, do pão, da água, da gasolina (com os carros de matrícula ímpar a circularem num dia e os pares noutro, alternadamente). Também faltava o papel para imprimir jornais, professores, escolas, livros para se estudar. Um mundo engraçado para se viver na angústia do golpe de estado que trouxe a liberdade, para alguns. Coisa parva, mas enfim!

Tudo isto que recordo só é possível porque aconteceu (qualquer que seja a década que abordemos) num país governado por uma série de destacadas figuras de estado só possíveis de existir aqui no burgo, e seus bajuladores. Isto leva-nos ao ponto seguinte.


Geringonça ou circo?


Cá voltamos a falar do governo. Embirração? É?! Então vejamos quem são os trunfos, que compõem o baralho, dos naipes do jogo da destruição nacional e afundanço do país. Uma filha de terrorista; uma preta na justiça; um pacote de familiares velhos distribuídos ‘à la carte’; uma fufa na cultura; um gajo incompetente com brinco na energia; um monhé como manda-chuva principal; burgueses cobardes e vigaristas no Bloco; uma cega numa secretaria de estado; uma rosa mirrada a dar nas vistas pelo sectarismo que demonstra (a tal da manicure ‘on job’); um tipo que está disposto a deixar um outro qualquer animal, ficar no parlamento, em vez dele, etc. Se isto não parece um circo, geringonça também não é! Variedade na mesma cor partidária, também não é sinal de democracia, nem de não descriminação. Aliás, de um governo que tomou o poder num ‘assalto palaciano’, é de esperar tudo. Por isso, é que deixei de votar. Em primeiro lugar, porque não me pagam para isso, apesar de cada voto dar dinheiro aos partidos. Em segundo lugar, porque o método e o sistema eleitoral são manipuladores do voto e, em terceiro, com estas trapalhadas recentes abstenho-me de participar numa farsa. Só volto a esforçar-me para, com lazeira, arrastar este traseiro, até uma racha receptora de papel, quando tiver sólidas perspectivas de mudança radical, à direita e com consistência. Até lá tchau! Boa noite e um queijo!



Texto: Fernando de Sucena (Investigador de informação; Jornalista; Escritor e Formador). 2019©/Produtores Reunidos©. Publicado originalmente no Xok Magazine Nº 59.

Imagens: Google©


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