Foi naqueles tempos idos, em que a televisão era admirada por quase todos e a taxa (agora chamada pomposamente de audiovisual) suportava as maiores piroseiras e criatividades da televisão do Estado.
Não me refiro, propriamente, aos Grandes Prémios de Fórmula 1, que mantinham milhares de olheiros colados aos écrãs, mesmo com cortes publicitários que omitiam precisamente a parte mais emotiva da corrida. Nem me refiro, a séries emblemáticas, como a milenar saga que se chamava “Cinema de Animação” apresentada por Vasco Granja, comunista dos sete costados, que, morava na Damaia, mesmo à beira da Cova da Moura, famosa mundialmente, pela sua má reputação, apenas, desde meados dos anos 90. Vizinho dele, foi, igualmente, Dino Meira, que tinha um quarto arrendado, em meados dos anos 70/80, na actual freguesia damaiense.
Falo, sim, de um ou dois programas, de música portuguesa que apresentavam inovações e apoiavam o que se fazia, de bom, por este reino, ainda fora das cogitações europeístas germânicas.
Um deles chamava-se “Berros e Bocas” em referência à enorme boca da apresentadora e ao estilo fala-barato do apresentador, numa das mais curiosas experiências de apresentação bicéfala. Não estamos a falar desse grande espectávulo familiar que era o Festival RTP da canção.
Falo concreta e objectivamente de Manuela Moura Guedes e Luis Filipe Barros. Com gostos musicais diferenciados e idades díspares, acabou por ser uma aposta ganha, na época oitentista. A locutora surgiu numa leva de apresentadoras que incluiu, Helena Ramos, Isabel Bahia, Fátima Medina, Fernanda Bizarro e Margarida Mercês de Mello, angolana, que acabou por se casar com o filho de ilustre, poeta, David Mourão Ferreira.
“Flor Sonhada”, foi um dos grandes temas dos anos 80 que mistura ‘rock’, ‘pop’ e acústico, e soa a Mike Oldfield com New Order. Do mesmo género, os portugueses DIVA, com outro grande tema “Saudade”, esquecidos, ambos, pela voragem dos ‘tops’ e dos ‘airplays’. Foi neste impulso que apareceram letras de Miguel Esteves Cardoso e Ricardo Camacho que, Anamar explodiu, que surgiu a Fundação Atlântica. Esta editora lançou nomes como ‘Os Delfins’; Sétima Legião ou os discos a solo de ex-integrantes dos Heróis do Mar. Durutti Column, Virginia Astley e Raincoats foram, igualmente, editados e distribuidos em Portugal pela mão da Isabel Castaño, mais tarde, uma grande promotora de uma editora independente, chamada Edisom, que funcionava, ali para Benfica, por detrás da Igreja, onde, outrora, existiu a redacção jornal do mistério, da ovniologia e do esotérico, Nostra.
Igualmente, nesta época, havia na Amadora um movimento de músical que, manteve alguns restícios, no século XXI. Dessa época restam os Casablanca. Desapareceram os Tânger mas, fica a recordação dos ensaios de uma banda igualmente extinta, onde alinhava Lena d’Água muito antes dos Salada de Frutas, bem como Guilherme Inês e Zé Ponte. Eles ensaiavam numa vivenda antiga, hoje já inexistente, na Av. Miguel Bombarda, com o nome de Beatnicks. Na altura estava eu nos Escuteiros e era frequente, ouvi-los a tocar em desafino total (claro está que eram ensaios).
Texto: Fernando de Sucena (Investigador de informação; Jornalista; Escritor e Formador).
Imagens: Arquivo/Produtores Reunidos©
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